terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Balanço


Na Contabilidade que tanto odeio, mas que me sustentou durante muitos anos, graças a Deus, Balanço é fazer com que os créditos e débitos sejam lançados de forma que, no final, tenhamos lucro ou prejuízo. Mas, e na vida? Chega mais um fim de ano e mais uma vez, faço aqui meu Balanço. Como ainda faltam uns dias para 2010, pode ser que este resultado mude. Mas, creio que muito pouco vai mudar. Por isso, já deixo aqui meu ensaio de virada de calendário.

O ano de 2009 foi meio cheio de surpresas. Umas boas, outras nem tanto, algumas bem desagradáveis, mas se estou aqui, eu posso me considerar vitoriosa, tendo vencido vários obstáculos e cruzado diversas etapas. Claro, ganhei algumas rugas e mais uma pequena coleção de cabelos brancos, mas isso, para mim, são medalhas de ouro! Ganhei grandes amigos, consolidei amizades que já existiam e que nesse ano se fortaleceram. Não vou citar nomes, porque não quero esquecer de ninguém e a memória anda meio gasta!. A todos, novos amigos e antigos, gostaria de agradecer por me aguentarem ao longo de 2009 com os meus altos e baixos e por me estimularem a continuar me expressando, a não deixar de Contar os Meus Contos e, principalmente, a me ajudarem a ser ponderada ao lançarem seus comentários, me mostrando o equilíbrio através de suas percepções.

Infelizmente, nem tudo é perfeito. Viagens, esse ano eu não eu fiz, empregos continuei a procurar sem encontrar, com doenças fui obrigada a conviver e, até, de uma cirurgia na coluna eu não pude escapar. Foram momentos longos de serem vividos e complicados de serem digeridos, mas sobrevivi! Com nascimentos e curas que muito me engrandeceram e me fizeram feliz eu passei bons dias de 2009, razão pela qual eu continuo acreditando no dia de amanhã com a mesma certeza do hoje vivido. Por isso, não vou me alongar demais. Nem quero passar a mesmice das mensagens de fim de ano. Portanto, serei breve:


Que na noite de Natal, o espírito de Luz e a verdadeira mensagem de fé no Homem e na Vida se faça presente em cada coração. Em 2010 viraremos mais uma página. Que tenhamos guardado na memória todos os momentos vividos de 2009 como ensinamentos e boas lembranças. Até mesmo as perdas inexplicáveis, não tente entender. É perda de tempo e porque não era para ser. Pense que perdemos um aqui, ganhamos dez ali, embora não substitua, ameniza. Que o amor que você plantou em 2009 lhe tenha dado lindos frutos e, principalmente, tenha lhe mostrado como cultivar novos e como manter antigos. Que seus sonhos tenham saído dos planos e que a realização deles tenham gerado novos sonhos para serem desenvolvidos. Que o medo tenha dado lugar à esperança, que o rancor tenha cedido espaço ao afeto e a boa vontade. Que os limites tenham sido superados. Que o amor tenha prevalecido e que a paz seja mantida, hoje, sempre e para sempre. Que não faltem discussões para que se encontrem alternativas. E que a luz que existe em cada um não se apague. Que ela brilhe linda e traga com ela a tão sonhada Felicidade!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Um sonho simples...


Eu, hoje, acordei feliz!

Sonhei com uma pessoa muito querida que vinha me visitar. Sonhei, exatamente, o que seria se ele viesse... Ou, pelo menos, esta seria uma parte do que aconteceria... Ou do que eu desejaria que acontecesse... Numa praia, sentada num banco, eu olhava o mar, coisa que me transmite paz interior e me acalma a alma que anda agitada e confusa...

E essa pessoa querida estava deitada com sua cabeça em meu colo, olhos fechados, como se estivesse descansando ou dormindo... Eu me dividia, ora olhava para o mar e me perdia, ora olhava para aquele rosto querido e me enamorava...

Entre um olhar e outro, minha mão deslizava pelos seus cabelos, desenhava sua sobrancelha, seu nariz, o contorno de sua boca... Ele, brincando comigo, mordeu meu dedo, de leve, e riu do meu susto! No meu sonho, ficamos assim um bom tempo. Não fizemos mais nada do que estar ali, trocando carinho e confiança, amizade e respeito, afeto e paz...

Mas, foi um sonho, nada mais que isso e que, hoje, me fez acordar com uma saudade de um momento que, sequer, vivi! Um dia, pode ser que aconteça de nós nos encontrarmos e eu poder sentir a sua cabeça no meu colo e ver sua expressão serena, poder desenhar seu rosto e levar, até, uma mordida no dedo.

Enquanto isso não acontece, eu me sento no banco da praia sozinha e, ao voltar pra casa e me deitar, levarei comigo a sensação do toque que não pude dar, mas que um dia, quem sabe...
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É triste escrever e não ser lida. Ou ser lida e não ser comentada. Sinto que tudo o que brota de inspiração se vai ao entrar aqui e não ver um recado, sequer, de quem passa...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Crônica de uma crônica



Eu tenho me identificado muito com Martha Medeiros, escritora e colunista da Revista de Domingo de O Globo. Nossos conceitos, idéias e opiniões andam em plena sintonia. Mas, o tema de uma de suas crônicas de um fim de semana foi tão de encontro ao que penso que não poderia deixar de fazer uma crônica em cima do assunto abordado por ela: Mulheres e Meninos.

Resumidamente, para quem não teve a chance de ler, ela aborda que mulheres maduras têm se relacionado com homens mais novos e este número vem crescendo a cada dia. Há quem diga que é o troco para os homens mais velhos e seus romances com ninfetas, afinal, eles precisam confirmar sua virilidade. Mas, como Marta, eu acho que cada um oferece o que tem e toma para si o que precisa. Relacionamentos, de quaisquer idades, são feitos de trocas. Se for amor, melhor ainda.

De repente, Marta fala uma coisa engraçada: Mulher é chata! Parei de estalo e disse "Ôpa, discordo de você, minha fiel companheira de idéias". Mas, não é que ela está certa? Ao mesmo tempo em que a mulher é linda, é gostosa, é sensível, é eficiente, ela, também, é chata! Só que a chatice passa com o tempo e mesmo perdendo o viço, ganhamos em troca serenidade, autoconfiança e experiência. E o melhor: ganhamos um humor imbatível!

Em suma, como não temos mais tempo para perder com picuinhas e ciúmes doentios, com sonhos inatingíveis e desconfianças, nos tornamos objetivas, sem precisar matar um leão por dia para provar isso! E qual o homem que não vai querer uma mulher assim? E ela termina com uma frase fantástica: Trocam-se duas esquizofrênicas de vinte por uma quarentona que só dê prazer, e não problemas!

Assim como ela, eu acho muito otimismo e utopia de nossa parte. Mas, que é bom saber que os meninos, como Martha carinhosamente chamou os homens mais novos, estão percebendo a nossa existência, as quarentonas assumidas e destemidas! Porque é fato que as meninas saradas e lindinhas de vinte são por vezes problemáticas. Falta a elas o que temos de sobra: anos de praia! Jogo de cintura, uma diversidade cultural, uma fluência verbal que diz não com a boca, mas sim com os olhos, coisas que só a experiência nos dá!

Acho que muito desta troca de duas novas por uma mais usada se deu pelo culto ao corpo. As mulheres pensam e respiram academia 24 horas por dia, ao passo que nós, coroas, achamos que um bom bater de coxas queimam mais calorias que correr numa esteira fria de metal. Isso porque na nossa idade, nos permitimos ousar sem medo. Não temos que provar mais nada para ninguém, principalmente, para nós mesmas!

Por isso, vemos tantos opostos se atraindo, seja do lado masculino que quer recuperar sua masculinidade e juventude como do lado feminino que quer ensinar tudo o que aprendeu durante anos para os mais jovens carentes! No final, desde que os relacionamentos não se desgastem, todos têm direito à felicidade e se existir amor, melhor ainda!

O que importa é ser feliz enquanto temos tempo e sabemos o que é nosso ideal de felicidade!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Eu nasci há dez mil anos atrás...


...E não tem nada nesse mundo que eu conheça demais! Sim, afinal, com meus 30 e 17 (sou que nem as modelos famosas de revista de fofoca, tipo assim, deixa eu ver, ah, já sei, CARAS! - não saio dos 30 nem que a vaca tussa!), tenho que viver muito para poder degustar certas coisas que estão entaladas na garganta porque eu não consigo digerir, como pequenos sapos, cobras e lagartos que a vida insiste em me presentear como banquete!

Ando cansada da mesmice. Os ricos e famosos, cada vez mais ricos e fazendo de tudo para permanecerem na fama. Os pobres e desconhecidos, categoria na qual me incluo, continuam cada vez mais pobres e mais deconhecidos. Assim, não há quem aguente e sobreviva nesse mar de hipocrisia que assola o País e olha que o degelo da calota polar nem começou em sua força total! Imagine na hora que começar a subir a água! Quero ver a quantidade de Noés que irão surgir, tal qual vans, fazendo carreto de pares, sejam eles iguais ou não, para garantir que, pelo menos, a mamata das crianças vai continuar garantida! Mas, nem quero imaginar quanta coisa vai boiar... Vai ser uma loucura!!!

O presidente do Irã, cujo nome é uma sopa de letrinha quer ser o dono do mundo, quer ter bomba, não quer reconhecer o holocausto, quer invadir Israel e qualquer um que seja contra sua política religiosa disfarçada. Hugo Chavez quer invadir qualquer viela próxima da Venezulela. Os EUA ainda não largaram o osso do Afeganistão, invadido e acabado com o objetivo de liberdade e reconstrução. E os morros do Rio, pra ficar pelo território nacional? Invadidos pela guerra do tráfico, policiais, balas perdidas e tudo isso junto e misturado? O que é isso, gente?

O que esse pessoal tem na mente além de titica? Será que o Mundo sobrevive a mais terrorismo velado em forma de defesa de terrotório (mesmo que seu território esteja há kilômetros dali)? Será que teremos que aguentar mais medo de viver, medo de fazer filhos nascerem para viverem nessa incerteza de uma guerra de conseqüências sem prescedentes? E o que isso tem a ver com o que eu queria dizer?

Eu liguei a TV no dia 21 de Novembro, meu aniversário, e só vi desgraças. Já é difícil nascer entre Zumbi e Araribóia e, ainda, só escutar que bombas explodem aqui, pessoas são atacadas ali, que forças de paz (que paz, se só rola guerra?!!!) estão indo para sabe-se lá onde fez meu dia parecer um dia nada especial. Na verdade, sabem qual a conclusão que cheguei? Que nasci na época errada!!! Eu queria cantar, no dia 21, PARABÉNS PARA MIM, com esperanças de dias melhores para sempre mas, reconheço, foi difícil, complicado, diria que utópico.

Entretanto, todo escorpiano tem um ar sensível e um sexto-sentido que diz que as coisas vão tomar um rumo. Contudo, eu nunca fui boa em leitura de mapas e bússolas, por isso, se o rumo do Norte for, na verdade, o Sul e se o Sul não for tão bom quanto o Norte, não reparem! Afinal, 30 e 17 anos de neurônios ativos, Tico e Teco, meus fiéis escudeiros, seria pedir muito, não acham???!!!

Uma coisa, porém, eu queria registrar: apesar de estarmos vivendo num mundo de incertezas, de drogas, de guerras, de famílias se afastando, de pouco ou quase nada em termos de saúde, educação e informação verídica para a população, ainda acredito no ser humano e que ele não evoluiu para se destruir. Isso é coisa de poucos que conseguem mobilizar massas com o dom da palavra e do falso discurso, das promessas ilusórias. Da mesma forma que existem pessoas com o dom de destruir, existem as que constroem e sabem fazer isso como poucos. Falta-nos tempo para parar e, principalmente, falta-nos a capacidade de reconhecer estas pessoas.

Por isso, mesmo que conselho não seja bom, mantenham seus olhos e ouvidos abertos. Nada como um bom amigo, como nossos pais, como professores, livros, papos sentados na beira do mar, vendo o sol se pôr ou o dia raiar para responder perguntas que pareciam sem resposta e, cuja única saída, parecia ser a dor, a morte e o vício! Amanhã há de ser diferente de hoje e não nos custa deixar uma marca positiva de nossa passagem. Portanto, vamos devagar com o andor pois, o santo, é de barro! Vamos dizer SIM quando for certo e aprender a dizer um sonoro NÃO quando tivermos a certeza de ser o que é preciso no momento. Mas, não vamos nos deixar levar por falsas promessas, por aqueles que dizem querer a paz promovendo a guerra, por falsos profetas. Acreditem mais em si próprios e tenham mais fé na vida. Volto a dizer, o ser humano não foi feito para se auto-destruir!

Construam! Cresçam e sejam como eu, uma múmia nascida há um pouco menos que 10 mil anos atrás, mas que já viveu bastante para entender que tem muito o que fazer, ainda, e que vai chegar lá!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Quem disse que a vida começa aos 40?


Quem disse essa frase, morreu aos 39! Não posso acreditar que seja verdade! E explico porque, muito embora esclareça aos meus fieis leitores que só tenho 30 e 16 anos, faltando muito para "nascer", segundo o dito popular!

Quando temos 20 anos, nosso corpo é escultural e, podemos dizer que é a nossa marca registrada, não importando o sexo! Mas, na cabeça, Meu Senhor, só tem o que gato enterra! Nada que preste, desejamos viver a vida intensamente, conhecer o desconhecido, arriscar, dar as cartas e nem baralho temos!

Quando atingimos os 30, estamos mais centrados, pensamos no futuro, como se 10 anos passados tivessem sido perdidos, jogados fora por só desejarmos o culto ao corpo, à juventude e à vida! Agora, que somos trintões assumidos, nós tentamos recuperar o tempo e mergulhamos de cabeça em uma única vontade: vencer! Não sabemos contra quem lutamos, mas sabemos que nosso objetivo é alcançar algum lugar, não sabendo ao certo onde nem por quê.

Chegamos aos 40 e vimos que perdemos 20 anos! Era para ter, pelo menos, zerado o cronômetro! Dez anos perdidos mais dez conquistados, noves fora, nada! Zero! Aí, pelo que entenderíamos do ditado, a vida estaria começando e teríamos a beleza da juventude aliada à sabedoria dos anos dedicados à vitória e à conquista do lugar ao sol!

Mas, que começa aos 40 que nada! Quando atingimos os famigerados 4.0, quando nosso potencial está no auge, nossos hormônios conseguem discernir o que é tesão e o que é amor, o que é pele e o que é química, o que é o joio e o que é o trigo, nós, os coroas de 40 anos, ganhamos, ao mesmo tempo, o diploma de ultrapassados, velhos e incapazes! Alguns entram em estado de volta aos tempos de John Travolta e resolvem reviver os anos idos, fazendo o papel do ridículo. Outros se fecham em seus casulos e resolvem deixar pra lá, se entregando aos sonhos passados e vivendo deles. Afinal, lugar de velharia e história antiga é em Museu! Tem o terceiro grupo que resolve abrir e detonar geral troca uma esposa (ou marido) usada (o) por duas (dois) da metade da idade, pelo prazer de recuperar a juventude perdida e que a esclerose não permite lembrar que já foi vivida, só que de forma estúpida e fugaz!

No trabalho, então, nem se fala! Passamos de inexperientes para "over qualified", sem termos, sequer, visto ou sentido a cara do sucesso, o gosto e o prazer de atingirmos o sonhado patamar da fama, conquistando e elevando nosso ego profissional no podium da vitória! Aos 40 somos um bando de velhos caros que, além de termos que receber salários adequados com nossa experiência significamos, também, futuros aposentados, ou, os chamados indesejados causadores de déficits nos orçamentos anuais!

Ainda bem que faltam muitos anos para eu chegar aos 40 anos. Até lá, espero estar preparada para encarar a realidade com a qual a experiência é tratada. Até lá, espero que as pessoas jovens de 40, 50 e 60 não sejam consideradas terceira idade ou adentrando no renomado grupo! Até lá, espero que a realidade da vida seja outra, que tanto os homens como as mulheres orgulhem-se de dizer "Tenho 40 anos muito bem vividos e espero, ansiosamente, pelos próximos 40!". Que não temam os fios de cabelo branco, as rugas, a flacidez, as dificuldades até porque, elas não existirão. As pessoas de 40 serão, finalmente, vistas como altamente capacitadas e no auge de suas qualificações, sejam elas culturais, estéticas e pessoais!

Enquanto eu espero essa fase da vida chegar, vou acreditando em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, no Lula transformando a Dilma numa mulher feminina e de candura incontestável, essas coisas!

domingo, 8 de novembro de 2009

Coisas do arco da velha


Estava eu, passeando pelos 150 canais da Net e, como sempre, não encontro nada de interessante para ver. Resolvo, para variar, passar o controle remoto para meu marido e dormir, desistindo do desafio que é procurar uma diversão que não me faça pensar e que me faça rir um pouco, já que rir é o melhor remédio!

Para não perder o hábito, meu marido pára no Discovery Channel e começa a ver mais uma das inúmeras reportagens sobre o Egito antigo e suas múmias maravilhosas. Não sei, mas acho que ele, além de Geólogo, tem uma quedinha por arqueologia e fico, até, preocupada com as reais razões que o levaram a se casar comigo...!!!

Mas, voltando ao programa, que acabou me despertando a curiosidade, descobri coisas muito interessantes. Vi, por exemplo, um cirurgião atual utilizando um bisturi, feito de bronze pelos médicos egípcios, que não só tinham o mesmo formato dos atuais mas que funcionavam com a mesma perfeição, cortando uma pobre galinha depenada para demonstração. Os egípcios eram detentores de grande conhecimento medicinal e pesquisadores (diria fuçadores ou aspirantes à traças) descobriram papiros, ou pedaços destes, que traziam uma espécie de bula de remédio ou receita médica do tipo, para curar esse ou aquele mal ou aquela infecção, utilize o fruto do salgueiro (do Egito e não o do falecido bicheiro) que é rico em ácido acetil salicílico, vulgo, aspirina!

Fui ficando interessada com as famosas receitas caseiras dos tempos das tataravós das tataravós das bisavós de minhas tataravós e acabei por despertar, completamente. De repente, pensei que meu marido tivesse se cansado de olhar aquelas múmias todas e mudado de canal, pois do nada, surgiu um homem, andando atrás de jacarés, catando pelo chão, nada mais, nada menos que suas fezes. Sim, a imagem era a de um lunático que ficava recolhendo cocozinho de jacaré e colocando num vidrinho - oh, céus, que coisa mais salutar para aquele momento do meu dia! Quando eu ia reclamar com o maridão para voltar para as múmias o locutor diz que este distinto pesquisador estava estudando parte dos papiros do antigo Egito onde estava escrito que as fezes daquele réptil eram usadas com eficácia para curar doenças dos olhos, a nossa conhecida catarata, e, pasmem, para fins anti-concepcionais!

Era o remédinho que me faltava: Dei de rir, sem parar, imaginando a cena: Uma deusa, cheia dos ouros, cheia das pinturas faciais, correndo atrás de um jacaré com um piniquinho na mão, caso contrário, não ia ter festa na casa de Noca! Imaginem se tivessemos TV no Egito antigo e, por ocasião dos bacanais do carnaval, fosse veiculada a propaganda, "Use cocô de Jacaré e previna-se! Eu uso, e você...". Claro que este artigo tratado como medicamento só poderia se contraceptivo uma vez que passou, isolou! Quem ficaria ao lado de uma pessoa com esse "creminho" em forma de preservativo... Ou ainda, você vai nas farmácias e pede uma caixinha com cocô de jacaré e o farmaceutico pergunta se de jacaré pequeno, médio, grande ou extra G!!!

Foram tantas as conjecturas que desistimos de ver o resto do programa temendo mais alguma descoberta do arco da velha. Já haviamos perdido o sono e meu marido deu graças à Deus de eu ter ligado as trompas, caso contrário, teria que procurar o zoológico mais próximo para prevenir uma gravidez não planejada!!! E as gargalhadas continuavam porque iam surgindo cenas hilárias em nossas mentes perversas!

Tentamos ver, ainda, outro programa que falava sobre pessoas da terceira idade, ou seja, saímos de uma múmia do Egito e caímos num velhinho embalsamado que, aos 92 anos, dirige um Puma - isso mesmo, aquele carrinho pequenininho, rasteirinho, muito usado nos anos 70 pelos playboys de plantão. Este senhor é médico cirurgião e praticante (fiquei impressionada com a firmeza de suas mãos ao cortarem um paciente... Mas, me perguntei o por que dele cortar, mesmo que com firmeza e em linha reta, do ombro direito até o osso da bacia, no lado esquerdo, se a cirurgia era no braço... seria uma nova técnica...! - brincadeirinha!!).

Segundo ele, o segredo de sua jovialidade em forma de longevidade, é conversar muito com a namorada - que parece filha ou neta menos namorada é ter amor pelas pessoas, amor por si próprio e amar aquilo que faz! E, como ele ama muito, safadinho, sendo uma pessoa consciente, esclarecida e fazendo questão de dizer que mantém os mesmos hábitos de quando era jovem, hummmm, ele se previne, afinal, não é bobo: tem um jacaré em casa!!! (Apenas um esclarecimento: do jeito que a reportagem era antiga, o velhinho já deve ter passado dessa para melhor... Se não foi, ainda, imagina o que ele anda aprontando por aí!!! )

Como diria um colunista social do passado, "De leve...”

domingo, 1 de novembro de 2009

Minha alma sangra


Como disse Cecília Meirelles "eu não tinha esse rosto de hoje, assim triste, nem esses olhos tão vazios, nem o lábio amargo..." Talvez do meu sofrimento de hoje dependa a minha felicidade de amanhã.

Eu amo mesmo sem ser amada a um homem que me enxerga, mas não me vê, mas que um dia soube, ainda, ver a beleza mesmo quando eu mesma já era incapaz de acreditar nisso. Um homem que eu sabia, exatamente, o que estava pensando porque quando abria a boca dizia exatamente o que eu imaginava. Um homem que soube explorar o meu corpo e conquistar a minha alma. E que, diferente da maioria, não fazia o possível e o impossível para esconder suas fragilidades.

Eu amo mesmo sem ser amada a um homem que demorou dois segundos pra pronunciar três palavras mágicas na primeira vez que nos vimos: você é linda. Em dois pequeníssimos segundos ele transformou meu pesadelo num conto de fadas.

Eu amo mesmo sem ser amada a um homem que se revela pelos olhos. Sim... Posso olhar naqueles olhos e ver a criança que se esconde atrás deles. Posso me fixar em angelicais olhos verdes e descobrir o demônio que se esconde ali. Sei quando esse homem está fingindo dormir por cansaço. E, o mais evidente e triste, sei quando está fingindo não dormir com outra pessoa...

Eu amo mesmo sem ser amada a um homem pelo qual ousei numa cama por desejar, demais, agradar. Fetiches, sonhos guardados, fantasias quase de adolescentes. Tudo isso não foi ridículo. Tudo isso foi perfeito. Tudo isso ficou com sabor de ainda não acabou ou de quero mais... Mas não tem.

É... Hoje eu sofro desmedidamente por não ter mais os olhos que me viam. A voz que me elogiava na medida certa que eu precisava. Sinto falta das mãos, boca e todas as ferramentas que aquele explorador usou ao me descobrir para a vida. Sinto falta da velocidade dos elogios proferidos. Sinto falta do conto de fadas que vivi. Sinto falta de olhar naqueles olhos, mesmo para ver que não ocupo um lugar dentro daquela vida espaçosa que ele tem. Sinto uma dor lancinante quando penso que, tudo isso e mais, está sendo visto, ouvido e vivido por outra pessoa que não eu. Sinto falta de ousar, saudades das fantasias, dos sonhos...

Mas, a minha felicidade de amanhã depende do meu sofrimento de hoje. Espero, então, estar viva para ser feliz, de preferência, ao lado dele...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Consequências de um bom divã


Se você não viu o filme O Divã, com a maravilhosa e impagável Lilia Cabral, está perdendo uma grande oportunidade de se ver em sua própria história de vida, seja ela agora ou futura. Porque, sim, o filme retrata uma mulher real, que existe em nós ou que convive conosco.

O filme enfatiza bem nitidamente que para mudar é preciso dar o primeiro passo. Seja qual for a mudança, seja qual for o tamanho do passo. Mudar é preciso. Seja num repicado de cabelo, numa roupa, numa relação. Não importa o grau de complexidade da mudança. O primeiro passo é tudo.

Outra coisa marcante foi à relação de amizade da personagem da Lilia, Mercedes, e sua amiga fiel. Gente eu me peguei pensando "Que bosta! Não tenho amiga assim!" Sabe aquelas amigas inseparáveis que você pode contar para rir e chorar junto? Isso todo mundo tem. Eu não... Menos ainda uma amiga para pagar mico junto. Isso, só mesmo aquelas duas! A cena da discoteca, onde a Mercedes pinça a coluna e para não perder a classe, as duas dançam tal qual duas macumbeiras em terreiro é impagável!

Sei que recomendo o filme como uma análise de vida. Não recomendo analista, afinal quem sou eu para dizer que alguém precisa de ajuda! Mas, recomendo ver o filme para que possa ver se, agora ou futuramente precisaremos nos sentar num divã e dar o primeiro passo, se expor em detalhes para melhorar sempre na busca da felicidade.

Deixo aqui alguns pensamentos que anotei durante o filme. Acho que, ao ler estas frases, vocês passarão numa locadora:

Essa é mais básica do que azulejo branco.

Quem fala que fulano é a metade da laranja de beltrano... Esse papo de achar a metade da laranja... Me diz uma coisa, já ouviu alguém perguntando "O que você quer ser?" e a pessoa responder "Uma laranja!"?

Assédio Sexual só acontece quando o homem é feio.

Ser mãe é envelhecer no paraíso.

Agora ela fala do meu fígado e do meu pâncreas se eu bebo demais. Antes, falava das minhas coxas, minha bunda... Puxa, isso que eu chamo de amar o interior da pessoa!

Mulher não resiste a um amor impossível.

Um homem diz que você é linda, maravilhosa, se você tem 20 anos de casada e o miolo mole, você acredita, não acredita? Claro que acredita!

Ao invés de "enfim, sós" ele me disse "enfim, juntos". Nesse dia, soube que seria feliz para sempre.

Quando o homem se separa precisa saber quem é de novo. Aí, ele precisa de uma mulher jovem e gostosa para apresentá-lo a si mesmo.

Quantos anos ela tem? Ah... Entre 55 e a morte! Mas ela fez tanta plástica que de cearense de nascida, agora ela é nissei!

O fim nunca é bom. Se fosse bom seria um começo.

Depois dos 40 anos, tudo despenca... Menos a gengiva, que sobe... Retrai.

O fundamental a gente nunca fala... Aí, a pessoa morre sem saber que era uma fofa, uma baita amiga, ímpar.

Se eu tiver problema um dia, não foi por falta de necessidade.

Essa última frase me marcou e não sei por que. Mas, com certeza, quem escreveu precisou descobrir-se. E ao descobrir-se, viu que a vida não é uma receita de bolo, é uma transição diária que se vence com nossos desalinhos e que se aceita fácil nossas irrealizações. Para isso, precisamos dar o primeiro passo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Platônico


O que tinha de ser
Foi sem ter sido.
O que tinha de viver
Morreu sem ter vivido.
Assim, platônico
Morreu meu amor que
Atônito
Descobriu-se ser,
Irônico,
Um mero nada.
Também pudera, amar de novo
A pessoa errada!
Ah, eterna sonhadora
Amante enamorada,
Coberta de devaneios
De raios de sol brejeiros
Que se bastavam.
Como você me bastaria
Se não fosse mera utopia
De uma felicidade sem fim.
Sim, foi isso que você foi para mim.
Um romance platônico,
Sem começo, sem meio,
Mas com um triste e doloroso
Fim!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Espelho, espelho meu...


As coisas nunca foram simples na minha vida. Passei por muitas situações adversas e tive que superar (ou tentar superar) muitos complexos. Quem pensa que ser magro para ser considerado perfeito é ditadura de moda recente está enganado. Enfim, depois de muito lutar com a balança, eu acabei desistindo. Ela venceu por nocaute! Sou o que sou e como Gabriela já dizia “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim... Andréééaaaa” .

Sempre fui uma pessoa carente graças a essa maldita ditadura. Sempre suei para conquistar as pessoas e nem suando eu perdia peso! Para ser aceita eu era a palhaça do grupo ou, como me chamaram, o bobo da corte! Para sair com a turma, como qualquer jovem, eu era a vela de confiança, afinal era a única que tomaria chá de cadeira e poderia dar um fiel relatório do comportamento das minhas amigas gostosonas para os pais. Vida malvada.

Cresci carregando o meu peso e mais o desse fantasma que me perseguia. Aprendi à duras penas a conviver comigo e meu espelho, mesmo ele me mostrando a verdade nua e crua e olha que ver essa verdade nua era barra! Eram tantas as dobrinhas... Tive dificuldades de relacionamentos por causa dele. Tinha medo de que os futuros candidatos a pretendentes conhecessem meu espelho e, com ele, a verdade que eu disfarçava como podia usando roupas largas.

Os anos passaram, eu aprendi a conviver com ele apesar de não nos darmos bem até hoje. Se fosse só com o meu físico eu não estaria tão revoltada. Mas esse maldito me fez não dar valor, também, a mim diante de uma relação. Ele abalou as minhas estruturas internas. Ele acabou com o meu eu interior. Autoconfiança é uma expressão que não existe no meu vocabulário graças à reforma gramatical que esse espelho fez por conta própria na minha vida. Eu tenho medo de perder as pessoas, de ser trocada, de ser esquecida ou qualquer coisa parecida. Afinal eu passei minha vida sendo preterida por barriguinhas perfeitas e bumbuns arrebitados. Meu cérebro era, e ainda é magro, mas quem tinha ou tem visão de Raios-X? Meu coração é um doce que não engorda, mas pelo visto enjoa. Eu tenho o poder de repelir! Eu afasto, eu irrito, eu consigo acabar com qualquer coisa por puro medo de perder! Olha que coisa mais absurda: meu medo de perder é tanto que eu perco a pessoa por isso! Inaceitável, inconcebível, inacreditável, mas verdadeiro.

Conheci uma pessoa. A pessoa dos meus sonhos mais secretos de infância. Aquele que você espera numa armadura e montado num cavalo branco de crinas esvoaçantes. Tudo nele me encantou e, como sempre, eu achei que ele não olharia para mim. Mas, ele olhou e se aproximou. Foi tudo tão lindo, tão perfeito que nem o conto de fadas mais moderno poderia ser contado de forma mais gostosa. Mas, meu medo de perdê-lo começou a bater e a insegurança foi mais forte do que a fé no meu taco. O que era para ser maravilhoso, grandioso, o amor mais amado depois de Romeu e Julieta, Peri e Ceci, Cinderela e o Príncipe, Shrek e Fiona se tornou uma história sem fim típico de cinema. Não deu bilheteria. Não teve Ibope.

E o pior é que eu estou sofrendo como condenada por conta disso. Estou entregue às baratas. Nem mesmo o meu arqui-rival espelho tem visto meus contornos. Nem mesmo ele tem coragem de ver as lágrimas que não param de rolar porque ele sabe que a culpa desse meu fracasso é dele. Ele sabe que ele poderia ter sido mais amigo e ter mostrado que meu interior era muito mais atraente ao invés de me comparar com aquele bando de mulher gostosa. Ele poderia ter dito que meu coração era muito mais importante do que um par de belas pernas torneadas. Ele poderia ter plagiado o filme Shirley Valentine me dizendo que celulites são covinhas produzidas pelas muitas gargalhadas que já dei na vida. Mas, não. Ele me fez uma pessoa que já entra na relação se sentindo a última, o cão chupando manga, um fracasso! Ele me fez, sempre, a pessoa que é a trocada por qualquer outra! Ele me fez sentir que sou ninguém!

E sendo essa ninguém que sou hoje, eu reconheço que na ânsia de amar o meu príncipe e, principalmente, ser amada por ele, eu enfiei os pés pelas mãos. Pedi, implorei, supliquei para ele me notar. Fiz loucuras de amor. Apelei para a pena. E nada disso era preciso. Não preciso lembrar para ninguém que, realmente, me conhece um pouco que sou uma pessoa boa. Não preciso que sintam pena de mim. Se ele não tem tempo para me notar, não é porque sou feia por fora. É porque não soube ser linda, o suficiente, por dentro para me tornar inesquecível. E por mais que eu tente me fazer presente, não se pode ver aquela pessoa que não existe...

É, espelho, espelho meu! Assim como eu, devem existir várias pessoas que você transformou nisso que sou. Além de mim, você já sabe que não sou ninguém! Tudo isso graças a essa sua obsessão doentia em me tornar o que não sou. Tudo isso por me fazer insegura como ser humano quando eu poderia ser simplesmente, eu, feliz sendo assim... Andréééaaaa! Você conseguiu fazer sentir que sou incapaz de fazer alguém olhar para mim e, somente, me amar como sou, sem eu ter que forçar a barra! Obrigada por mais essa na minha vidinha sem sal, sem açúcar e sem gosto.


Aliás, essa minha vida é a tão sonhada dieta que você tentou me impor ao longo de todos esses anos! Parabéns, você finalmente conseguiu!


domingo, 11 de outubro de 2009

12 de Outubro é dia de renovar o que deveria ser eterno...


Bola de meia, bola de gude, boneca de pano, Susie, velotrol, bicicleta com rodinha, rolimã, quadro negro, pique-pega, subir em árvore, escorrega. Manda chuva, Guarda Belo, Flintstone, Jetsons, Herculóides, Jeanne é um Gênio, Feiticeira, Mickey, Pateta, Donald, Patolino, Perna Longa, Gaguinho, Gordo e o Magro, Os Três Patetas, Nacional Kid com os Incas Venuzianos e o Celacanto provoca Maremoto, Super Homem, Zorro, He Man, She Ra, I love Lucy, Elvis Presley, Folias na Praia, Piu-Piu, Frajola, bricar de pular corda, pular elástico, amarelinha, costruir cidades com bloquinhos de madeira, brincar de casinha, panelinha, ser mãe da bonequinha favorita, desenhar atrás da porta e culpar o irmão que não existe porque é filha única e ficar de castigo, ter medo de escuro, andar de balanço, dormir ao som de uma canção de acalanto, jogar queimado, bater nos meninos, chicotinho queimado, telefone sem fio, passa anel, passa passa galinha arrepiada, deixa eu passar, tomar banho de chuva, lamber a tigela de massa de bolo, bricar escondido com o cachorro que insistem em lamber seu lanche, salada de fruta de 22 frutas -11 laranjas e 11 bananas - bico de pão com leite condensado, sábado lanchar na casa da vovó, domingo ir ao Campo de São Bento, durante a semana poder tirar um soninho depois dos deveres de casa, até a hora dos Batutinhas, cair, machucar o joelho, ganhar um colinho, passar o batom da mãe se olhando no espelho, querer ser professora, bailarinha, atriz, cantora, cabeleireira, secretária, mãe, dona de casa, poder ver a TV até tarde, sem que o sono vença, ir ao cinema ver Branca de Neve, ET, brincar na praça, quermesse e carnaval de rua, primeira comunhão, colégio de padre, português, matemática, massinha de modelar, pular o muro do vizinho, cair de cara no chão, rir, gargalhar até ter dor na barriga, comer bombom, tomar sorvete e se lambuzar toda para comer, por fim, a casquinha, bala Boneco, Frumelo, medo de dentista, achar uma moeda debaixo do travesseiro quando caiu o primeiro dentinho que foi doado para a fada do dente, entregar a chupeta para o coelhinho da páscoa, esperar Papai Noel mesmo que morando em um apartamento pequeno e sem chaminé, balanço, piscina com bóia de patinho, praia e castelos de areia, achar tatuí na beira da praia e colocá-lo na mão para fazer cócegas, as mesmas cócegas que papai e mamãe faziam na minha barriga até eu perder o fôlego de rir, deitar no colo de meus pais e me sentir querida, segura, feliz. Essas são as poucas de muitas lembranças que tenho do que era ser criança há muito, muito tempo atrás...!!!

Hoje, vejo cyber crianças em seus cyber mundos de cyber monstros que lutam contra super poderosos defensores da galáxia como Power Rangers, Medabots, Yugi Oh, ou cyber defensores criados por cyber computadores que ultrapassam os limites do real e do imaginário. Vejo meninas que querem ser moças com apenas 6 anos de idade e que acham que namorar é coisa ultrapassada, o negócio é "ficar". Tão bom seria que todas as crianças pudessem saber, fosse através do "velho", como foi na minha infância, fosse através do novo, com a cyber evolução da infância, o que é, realmente, ser criança! Ser criança é ter o direito de chorar, de rir, de não sentir fome, frio, sede ou dor. É ter uma cama quente, um teto seguro, um lar onde seus pais mostrem o quanto a amam, onde o carinho e a felicidade sejam parte de seu dia e de seu aprendizado, mesmo que seja uma casa simples, de pau a pique e sapê. Ser criança é poder estudar, é poder brincar, é poder escolher o lado do bem, seja ele, através de Mickey, Piu Piu e Frajola, Tom e Jerry ou de Power Rangers, Hulk e Homem Aranha.

Ser criança e poder desenhar castelos, é viver esperanças e acreditar no futuro. Ser criança não é ver criança morrendo de fome, não é ter que entender política e interesses econômicos que preferem matar a ajudar um povo sofrido, é não ter que entender palavras como racismo, terror, é não ver milhares de famílias dizimadas em guerras feitas por adultos que não sabem nem o porquê de estarem guerreando! Ser criança não é ter que ver outras crianças num lugar distante, como a África, parecendo cadáveres em vida, cercadas de mosca, miséria e morte. Ser criança não é ver escolas invadidas por adultos insanos que lutam por causas perdidas e executam pequenos seres que, sequer, tiveram a chance de crescer para entender o que, na verdade, não se entende. Ser criança não é ter medo de fazer castelos de areia na beira da praia e, de repente, passar um arrastão ou ser atingido, num parque, por uma bala perdida. Ser criança não é viver nesse mundo que tentamos melhorar mas, que fica sempre na tentativa porque o que ensinamos é que ter é mais importante que ser. Ser criança é crescer sem medo para ter a coragem de mudar, de fazer, de realizar, de tornar concretos todos os sonhos que existem dentro de cada um de nós. Ser criança é nunca deixar o adulto tomar conta de todo o espaço que existe dentro do nosso coração e de nossa mente. Ser criança é se sentir tão ou mais importante que qualquer coisa porque ser criança é a imagem e a semelhança do futuro.

"E o futuro, é uma astronava, que tentamos, pilotar. Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença, muda nossa vida e depois convida a rir ou chorar. Nessa estrada, não nos cabe conhecer o que virá. O fim dela, ninguém sabe, bem ao certo onde vai dar. Vamos todos juntos, numa passarela, de uma aquarela que um dia em fim, descolorirá!".
Mesmo que em cores apagadas, que o mundo não perca a sua cor e sua alegria, traduzidas no sorriso franco e sincero de uma criança! Feliz dia da criança que existe em cada um de nós!


Para meu filho que neste dia abençoado completa mais um ano de vida, toda felicidade do mundo!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ame-se ou deixe-se!


Em uma letra dessas que podem ser consideradas brega, existe uma frase que é dita por uma mulher, mas que na minha cabeça pode-se dizer assexuada: "Sou uma mulher, preciso ser amada!" Ou seja, quando digo assexuada, quero dizer que o ser humano precisa de amor para viver.

Não falo de sexo, falo de amor. A letra, muita bem feita, de Amor e Sexo de Jabour define as diferenças entre ambos. O que falo aqui é de um amor muito maior, que não exige o sexo como princípio, meio ou fim para um relacionamento. É aquele amor que precisamos para nos sentir vivos.

Conheço pessoas que querem mudar suas vidas. Pintam seus cabelos, mudam seu guarda-roupa, cortam hábitos, adquirem outros, dedicam-se a cultuar o que antes era o avesso de suas vidas e, felicidade que é bom e amar-se que é melhor, não conseguem, apesar de toda a radicalização. Uns, se fecham em casulos, morrem em busca de um amor que não existe. Porque o amor só existe se você for capaz de se mostrar e não temer as conseqüências do que ele traz.

O amor dói e enlouquece. O amor exulta e enaltece. O amor amargura e envelhece. O amor, um dia, acaba e se esquece. E em seus casulos, nada os oprime nada os divide nada os molesta nada os agride. O amor não escolhe idade, data, hora, nem lugar. Ele aparece assim como a chuva ou como o sol, ele nasce, ele cresce, ele frutifica, ele morre e ao mesmo tempo, ele continua, parado, guardado em algum lugar de nossas almas, residindo onde moram a saudade e a recordação. O amor esquece o que é são e do que realmente importa: amar-se antes de tudo para poder amar depois. Feridas se abrem e ficam expostas assim como nossa razão perde o bom senso e a vida perde o sentido. As forças se acabam, as cores perdem o brilho e se acinzentam como um dia que não tem calor, nem frio, um dia nublado, como nossa alma tumultuada e perdida em sombras. Tudo porque nosso amor se quebrou, rachou, partiu e acabou.

E nós, onde terminamos depois que o que chamamos de "o amor de nossas vidas" chega a um fim inesperado e diferente do que foi sonhado? No fundo do poço? Nas entranhas e profundezas do pior dos piores seres? O que somos? Somos, simplesmente, nada? Descobrimos que nunca fomos alguma coisa para alguém? Foi só isso? Tão pouco por tanta coisa dada, revelada, sentida e profanada?

Só seremos isso, esse pedaço de carne sem sentido, no dia em que deixarmos de entender que nós somos nossos maiores e melhores amantes. Somos a força que nos move, a vontade que nos alimenta, a luz que nos guia. Nós somos o nosso próprio prazer! Para aprendermos a amar terceiros, temos que amarmos a nós mesmos, antes de tudo, com a garra de um primeiro amor e com a certeza de que é o último que será vivido, para todo o sempre! Para sermos capazes de nos doar, precisamos aprender a receber, de nós mesmos, nosso amor próprio. Precisamos saber cuidar de nossas feridas, a conviver com o tempo e a sapiência de seu remédio. Temos que nos querer muito, muito mais que supomos querer qualquer coisa ou alguém.

No dia em que formos amantes de nós mesmos, descobriremos, que nem todos os amores são eternos e tão lindos como o nosso. E, quem sabe assim, passemos a entender o porquê de muitas relações naufragarem, porquê de muitas discussões sem sentido, porquê de muita dor desnecessária, e porquê de não sermos capazes de assumir nossos erros pequenos, feitos grandes, pela nossa incapacidade de saber como é grande nosso amor, por nós mesmos.

Seque sua lágrima, volte a viver. Hoje é hoje, nublado e cinza. Deixa a luz do sol banhar seu rosto e iluminar seu horizonte. Não tema a dor, não se cale diante dela. Mas, não deixe de ter em mente que existe uma pessoa que lhe ama mais que tudo: VOCÊ!


(Eu falo isso na tentativa de acreditar nessas palavras, mas confesso que estou sofrendo de amor... E, por ora, eu não me amo... Me odeio!)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Quero ser criança


Hoje senti saudades de ser criança e poder ficar horas a fio olhando para o teto, pensando o que eu quero ser quando crescer.

Quero ser bailarina, viver num mundo de sonhos e magia, ser leve como a pluma e me deixar levar por uma bela canção escrita há séculos por um homem qualquer que amava, loucamente, a namoradinha de um amigo tuberculoso seu.

Quero ser médica e salvar todas as pessoas assim como salvei as minhas bonecas. Consertando pernas, tapando buracos com massinha cor da pele, dando comidinha quente e aconchego, coisas que na minha visão infantil são o verdadeiro remédio: carinho e atenção.

Quero ser professora e ensinar as pessoas a ler e a escrever. Assim, ninguém irá chamá-las de ignorantes ou tratá-las como tal. "Quando se tem o conhecimento, se tem um tesouro" - sempre ouvi minhas professoras e meus pais dizerem isso. Posso estar procurando, ainda, o meu pote de ouro, mas sabendo o pouco que sei, conheço bem o significado de dignidade, honestidade e honra. Acho que sou rica!

Quero ser freira e poder voar bem alto, que nem a irmã Bertrini, de A Noviça Voadora. Mas, também, só por essa razão, pois eu gosto de paquerar os meninos de short e calças compridas e, os padres, até onde sei, usam saias como eu!

Quero ser adulta e poder trabalhar como balconista de alguma loja legal, como a Casa das Linhas para poder gritar o valor da compra e o quanto que estariam pagando. Ou, quem sabe, trabalhar no escritório onde minha mãe e meu pai trabalharam e ser uma importante “chefe de qualquer coisa”.

Mas, espera aí... Eu disse que eu queria ser criança para poder ficar horas a fio, pensando no que eu quero ser quando crescer... Só que eu sou grande, não salvei vidas, não ensinei ninguém a ler ou a escrever, não voei como freira, não trabalhei em loja, nem fui chefe de nada!

Quero voltar a ser criança para ver se recupero o mais belo que existe no ser humano, e que me faz uma falta danada: a inocência cega!

Quero voltar a ser criança e, simplesmente, ser feliz!

(Obs: Foto da autora quando tinha lá pelos seus 3 anos de idade... Nem me lembro mais!)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Coisas, simplesmente, coisas do coração...


Quando senti a dor forte me derrubando,

Pensei em coisas, muitas coisas.

Coisas que não havia feito e levado a fama,

Ou seja, gozaram e eu nem deitei na cama!

Coisas que eu havia feito e assumia a culpa,

Mas que havia sido jogada, cruelmente,

E, tão somente, nos meus ombros.

Coisas que nunca fiz e sonhei um dia em fazer!

Sonhei tão forte que na minha loucura

Eu desejei oferecer que o sonho dele se juntasse ao meu.

Coisas que eu sonhei acordada e que vi,

De forma nada delicada,

Que eram delírios meus e de mais ninguém.


Quando a dor foi passando, veio uma espécie de "mea culpa".

E uma necessidade de me perdoar para ser perdoada,

De me entender para me fazer entendida,

De amar para ser amada!

Lembrei-me que nada que é bom é eterno e verdadeiro

Exceto as decepções que nos cortam o peito

E nos fazem sangrar e sofrer.

E, até elas, cicatrizam com o tempo...

Mas, também me vi pensando que tudo isso,

Toda essa mágoa guardada e nunca dita

E todo esse amor revelado e nunca correspondido,

De loucuras desmedidas e sonhos impossíveis

Para mim teve o gosto amargo da dor e do medo.

Colocar toda a minha vida na roda

A fim de ter, somente, o som de um sim ou não,

Quase me custou mais que tudo...

Este mesmo tudo que não passa de nada de mais para uns.

Só que esse meu tudo ficou, de repente, claro, pelo menos, para mim...

Todos os meus erros e acertos não passaram de

Coisas, pequenas coisas e nada mais!

Assim como só eu perdi...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Trocando em miúdos


Quem conhece a obra de Chico Buarque, conhece bem a letra desta canção. E nela, é nítido o tom de melancolia e dor que se tem, ao se desfazer de coisas e planos, construídos a dois. Cada coisa que se pega faz lembrar um momento vivido, uma parte de nossa caminhada, um desejo almejado e, de repente, objeto de repartição, isso fica com você, isso comigo, aquilo pode deixar, não vai me servir, mas peço de volta determinada coisa que me é importante demais.


Eu acredito que essa deve ser a analogia ao se dizer que estamos virando uma página. Estamos, intimamente, encerrando um ciclo em nossas vidas e, como esta não pára, começamos outro sem termos pego, sequer, fôlego ou termos tido o merecido descanso do desgaste emocional vivido.


Hoje, acordei com a sensação de sujeira na alma. Uma coisa complicada de explicar, mas acho que todos nós, um dia, já acordamos assim. Como se precisássemos limpar as coisas, rasgar papéis que nos ligam a fatos, pessoas ou coisas que passaram por nossas vidas e deixaram, apenas, restos de recordações. Essa faxina de alma, no entanto, não se faz com um simples rasgar de fotos e documentos, pequenos lembretes ou grandes mensagens. E, podem ter certeza, dói.


A alma sangra e o coração se despedaça. Quando paramos e olhamos em volta, vemos nossos cacos espalhados pelo chão. E, o mais triste, é ter que nos perguntar se vale à pena juntá-los e continuar ou seguir em frente, sem eles, esperando que o tempo cicatrize as feridas e aplaque a dor.


É muito complicado limpar nossa vida. Identificar o que é certo do que é errado, o que precisamos e o que é desnecessário, o que é vital e o que é nada. É como escolher se ter dois braços faz alguma diferença do que não ter nenhum. É como escolher qual dos cinco sentidos devemos descartar. É uma viagem às nossas entranhas para renascer de nosso próprio ventre. É complexo, mas necessário.


Hoje, estou passando a borracha, limpando de vez, muitas coisas que fiz e me arrependo. Outras, no entanto, não fiz e não poderei fazer mais, já passou o tempo que urge e não pára ao nosso bel prazer. Estou com muito medo das coisas que irei, ainda, encontrar, as lembranças que me farão sorrir, outras que me farão chorar. Estou com medo do meu passado, mas preciso abrir espaço para um futuro que, ainda, nem conheço. Preciso fazer o divisor de águas. Preciso trocar em miúdos as sobras de tudo que fui, mesmo que com o peito dilacerado para que eu renasça melhor amanhã.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

E os olhos nos olhos? Onde ficam?


Já dizia Einstein: "Para tornar-se um impecável membro de um rebanho, é preciso ser um carneiro."


Isso significa que, se não dançarmos conforme a música estaremos desclassificados. Temos que ser "o" padrão e segui-lo, caso contrário, não somos parte do todo.


O que foi que aconteceu com as famosas diferenças que tanto atraiam os opostos, segundo as leis da Física? Foram acobertadas pela modernidade! Hoje em dia, temos diversas formas virtuais de ser a fim de agradar tanto gregos como troianos. Basta-nos criar, inventar, sonhar e realizar este sonho virtual.


As invenções do celular e do computador são dois excelentes exemplos do que quero falar. Eles têm o poder de atrair, enciumar ou afastar pessoas. Isso porque o virtual passou a ser mais excitante, preocupante e repelente que o contato físico, o oral e o visual! As pessoas passaram a se esconder atrás de telas ou sons de vozes ou de mensagens em forma de torpedo ao invés de mostrar-se como são. Criou-se o clone do ser humano, só que virtual e que tem, ainda, a facilidade de ser o que se quer ser.


Pessoas infelizes em seus casamentos procuram outras e dizem que são solteiras, quando na verdade, buscam tapar o sol com uma simples peneira. Inventam mundos paralelos e são engolidos por suas próprias fantasias. E, pior, são covardes para negar porque têm como escudo, o poder de não olhar nos olhos, dos quilômetros que os separa e a vantagem do anonimato.


De pequenas mentiras, nascem bolas de neve e estas se transformam em avalanches sem controle. Pessoas inocentes são engolidas e não se dão conta. Outra coisa muito interessante, os "clones" de seus sonhos começam a acreditar em suas próprias mentiras e não conseguem mais sair delas! É um poço sem fundo, um caminho sem volta!


Acho que é por isso que existem tantas pessoas que desaprenderam a olhar dentro dos olhos e, principalmente, a assumirem seus atos, seus desejos e, finalmente, tomar as rédeas de suas vidas! Conseguimos, finalmente, o relacionamento frívolo, racional e globalizado. Não precisamos mais de olhos nos olhos e sentimentos gerados a partir daí. Um teclar pode ser um gozo infindo, um enter pode significar um basta, uma "queda de sistema" pode ser sinônimo de adeus.


No entanto, nosso coração pulsa forte, nossa mente divaga, nossas lágrimas rolam quando descobrem um furo aqui e outro ali, nessa história de "amor" virtual. Mentiras têm pernas curtas e não sobrevivem, apesar de não se olhar bem dentro dos olhos. Mentiras nunca serão verdades. Mesmo que sejam nossos desejos, frutos de um erro, uma brincadeira que perdeu o controle e culminou com uma grande ficção.


Como Eu diria: "Se desejarmos que sejam verdades, só existe uma forma: Olhar nos olhos e ser um impecável membro do rebanho!"

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Cotidiano da maturidade


Um dia, ela se olhou no espelho e viu que os anos haviam passado. Sua pele não tinha mais o viço da juventude. Ao contrário, trazia as marcas de tantas coisas vividas, algumas delas que ela gostaria de poder apagar da memória. Mas, mesmo que conseguisse um fio de cabelo branco ou uma ruga a remeteriam para o período a ser esquecido. Então, o jeito era se conformar com as coisas que havia experimentado em forma de lembranças, as que não vivera em forma de sonhos e construir sua vida em forma de castelos, tendo como base, a fantasia.


Sua vida era a mesma rotina. Levantava-se primeiro que todos e dormia depois que todos haviam dormido. A sensação que tinha é que ela uma espécie de anjo, tendo como obrigação, velar pelo sono dos seus entes queridos. Até que um dia, ela se perguntou, solitária, quando encostava sua cabeça no travesseiro, no escuro de seu quarto, E quem vela por mim? Esperou um pouco por uma resposta, que não veio nem de si mesma. Cansada, adormeceu.


Ao acordar, percebeu que ali não era sua casa. Ali não era seu tempo. Algo muito errado havia acontecido. Onde estão todos? Onde estão sua casa, afazeres cotidianos, onde estava sua vidinha? Ao invés de chão frio, seus pés tocaram em um tapete macio e quente. Ao olhar para baixo, viu que sua surrada camisola não mais a vestia, ao contrário, uma camisa de pijama masculino lhe tapava o corpo. Quando teve coragem para tocar o tecido que parecia seda, e era, percebeu que seu corpo não era mais o que adormecera. Era o corpo de quando jovem, moça, quando suas formas deixavam suspiros de desejo por onde passava.

Correu para um espelho e soltou um grito, pasmo e ao mesmo tempo rouco, quase inaudível, quando se viu com 20 anos menos! Cabelos longos, castanhos, de um brilho sedoso. Sua pele sem uma ruga, exceto a de surpresa que estava em sua expressão assustada. Seus olhos, de um brilho intenso, pareciam querer dizer que ela estava acordada para a vida e que o tempo estava lhe dando, novamente, a oportunidade de tentar.


Ao voltar para o quarto, viu um homem na cama. Ela se levantara e, sequer, notara aquela presença. Andando, na ponta dos pés, como querendo evitar que este acordasse, ela se aproximou e o olhou atentamente. Era um jovem de mais ou menos 30 anos, cabelos escuros, curtos, sedosos, daqueles que se tem vontade de passar a mão para sentir o prazer do toque. Ele dormia tranqüilo, com uma expressão de felicidade no rosto bonito, de feições finas. Sem camisa, ela pode ver a pele clara. Ela foi chegando perto, perto, e sentiu seu perfume. Um misto de cheiro de homem e cheiro de amor.


Ela se abaixou, lentamente, até poder olhar para ele de perto. Ele abriu os olhos, sonolentos, mas que, junto com seus lábios, sorriam o sorriso mais bonito que ela se lembrara ter visto. Ele estendeu o braço e disse: "- Bom dia, amor!" Ela, meio que instintivamente, estendeu a mão até que tocasse a dele. Era quente, macia e suave... Ele tornou a sorrir e disse: "- Foi uma noite maravilhosa! Não vou esquecer nunca mais!" Ela sorriu tímida, mas com medo de perguntar qualquer coisa para não quebrar a magia daquele momento. Quem era aquele homem? Como teria sido a noite maravilhosa?


Ele se levantou e ela, num pulo, saltou como se tivesse assustada. Ele riu e disse: "- Calma, eu preciso ir. Mas, prometo, à noite é uma criança e eu vou querer mais. Em dose dupla." E saiu despido, naturalmente, para o chuveiro. Ela sentou-se na cama, pegou o travesseiro onde ele dormia, sentiu o perfume gostoso daquele cabelo negro. Ele saiu do banho e, ainda molhado, lhe deu um beijo e disse que se vestiria na sala, onde deixaram as roupas e de lá, sairia. Mas, que ela esperasse por ele, pois ele voltaria para aquela cama onde ele havia passado momentos deliciosos de prazer. Uma gota caiu de seu cabelo em sua boca.


De repente, o despertador toca, ela acorda na sua cama, com sua camisola desbotada. Entretanto, a gota estava em sua boca. Só que tinha gosto de lágrima daquilo que, mais uma vez, não viveu!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um homem, uma mulher, uma saudade...




Li, recentemente, um texto de um amigo que falava que um homem, completamente tomado pelo álcool, tentava escrever uma poesia na mesa de um bar, como todo bom bêbado que se preze. Claro, caiu por sobre a mesa, acordando depois de ressaca e com uma saudade louca daquela cujo cheiro não saia de sua lembrança.

Perguntei ao meu amigo, por que os homens apaixonados, bebem para esquecer aquilo que, no dia seguinte está mais vivo e doído que antes? Quem ama, não esquece com um porre nem com mil.

Com as mulheres, acontece algo semelhante. Ela se tranca em seu quarto, seu refúgio de todos os males do mundo. Põe-se em frente a um espelho e chora. Pega fotos e rasga. Não quer nada que lembre a pessoa amada. Rasga as roupas, quebra tudo o que possa ser lembrança que tenha sido dada pelo amor que se foi. Escreve e rasga inúmeras cartas. De repente, como num surto, começa a juntar os cacos de tudo, inclusive de si, como se montando de novo as lembranças. Cola as fotos com durex e beija a foto com os lábios inundados de lágrimas. No dia seguinte, depois de chorar como louca, junta os pedaços de si e continua a vida, de cara inchada e tendo uma saudade louca daquele cujo cheiro não sai de sua lembrança.

Mudam os locais, mudam os gestos de paixão explícita, mas a dor é a mesma. As reações diferem, mas as lembranças que ficam são iguais. Um, afoga-se no álcool e outro em lágrimas, mas o cheiro e as sensações permanecem. Nenhum dos dois teve a coragem de dizer eu lhe desejo, perdão, eu lhe quero ou eu preciso de você. Isso seria ser humilhante, para alguns. Para mim, seria honesto e evitaria tanto transtorno e dor. Nenhum pensou no que o outro representa. Foi egoísta e resolveu ter, para si, todas as formas de dor desse mundo cruel. Entretanto, esqueceu-se que o mundo lhe deu o dom de refletir e pesar, de pedir e doar, de errar e se desculpar. Faltou algo muito simples e que os casais pouco utilizam, hoje em dia: um diálogo franco e aberto e, principalmente, amor de verdade um pelo outro.

O que restou? Cacos de pessoas, pedaços de lembranças, cheiros, um homem, uma mulher e muita saudade!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Creio


... no sono dos anjos e que que trovões são provocados por anjinhos gordinhos que, ao invés de estarem dormindo, estão brincando de escorregar na água da chuva e se esborrachando no chão feito de nuvens.

... que os raios que caem do céu são os mesmos anjinhos levados que colocam o dedo na tomada, mesmo que São Pedro diga que dá choque.

... no bicho-papão perdendo a luta para a fada madrinha.

... em príncipes em cavalos brancos que defendem suas terras e lutam pela felicidade eterna ao lado da plebéia amada que usava um sapato de cristal ou que espera um beijo para acordar do sono provocado por uma maçã envenenada.

... em ratinhos que falam, em cachorros que cantam, em gatos levados, em coiotes que despencam de precipícios e que não morrem e não desistem nunca.

... em super-heróis, sejam eles verdes, de capas, de ternos ou saias, como nossos pais.

... em casas bonitas com tortas de cereja, esfriando na janela e cercada de árvores frondosas onde os pássaros cantam a alegria de viver.

... nos animais, nas pessoas, na sabedoria popular dos mais velhos.

... na luz que ilumina o caminho de todos nós e no futuro que à Deus pertence e que depende de nós construir.

... na união dos povos onde reinará a paz de cada espírito.

... nas coisas simples como olhar o mar, sentado na areia, assistindo o nascer ou o pôr do sol.

... em achar chiclete usado, moedas e bolas de gude no bolso da calça colocada para lavar.

... e no sorriso maroto que brota na face corada, repleta de saúde, que acaba de chegar.

... que prender vagalume em saco plástico para vê-lo piscar não provoca desequilíbrio ambiental mas, sim, conhecimento que nos transforma e engrandece, da mesma maneira como faz com a planta que antes era um grão de feijão, e que, hoje, cresce livre sob o algodão molhado.

...em gotas de orvalho iluminando a manhã em pétalas de flores sob o sol que brilha e aquece a alma e a vida.

... nas aves em seus ninhos, acalentando o ovo na mesma expectativa das mulheres barrigudas, pesadas, carregando uma vida em seu ventre e um mundo de responsabilidade em suas costas. ... em abrir pequenas frestas ou janelas ao fechar de grandes portas.

... em lágrimas sentidas, dores sofridas e, principalmente, em sorrisos largos, sinceros e verdadeiros.

... no choro de um bebê recém nascido.

... na esperança do sorriso desdentado e no medo estampado nos olhinhos perdidos diante do primeiro passo.

... na primeira palavra, geralmente, dita e que será sempre pronunciada: mãe!


Vejo a vida com olhos diferentes, desde o dia em que me tornei mãe. Minha vida deixou de ser minha, minha alma flutua e atua em todos os lugares. Criei asas, antenas, passei a ver o que não via e a sentir à flor da pele o que não sentia. Comecei a orar mais pelos outros do que por mim, mas, ao mesmo tempo, suplicando para que nunca me faltem força, alegria e disposição para servir aos frutos de meu amor. Passei a reverenciar e agradecer, todos os dias, a felicidade de ser mulher e de ter recebido o dom da maternidade. Passei a me sentir importante. Constatei que estou a um degrau abaixo de Deus!

domingo, 13 de setembro de 2009

O espelho da minha alma


Sim, alguma coisa acontece no meu coração. Sabe quando você levanta da cama, olha no espelho e percebe que o tempo passou? E sabe quando o que você viu não lhe agradou? Sua imagem não é mais daquela moça sedutora que encantava a todos que cruzavam o seu caminho? E que você sente uma necessidade urgente de voltar a ver aquela mulher atraente que existia, mas que a vida se encarregou de envelhecer?

Pois é. Acordei assim e resolvi que tinha que mudar essa sensação perturbadora de medo que se apossou de mim. Decidi que ia alterar o curso dessa vida que estava tentando me roubar uma coisa preciosa: a sensação da juventude. Decidi, portanto, me enfeitar. Resolvi resgatar aquela moça de sensualidade explícita que existia em mim. Tomei um banho delicioso. Cremes e perfumes delicados foram espalhados pelo meu corpo que eu me neguei a ver pelo espelho com medo de parar e desistir. É complicado constatar a verdade nua e crua de que se está envelhecendo fisicamente quando os seus anseios e desejos continuam os mesmos. Fiz uma maquiagem suave, daquelas que realçam os olhos, meu apelo mais puro porque neles eu revelo as verdades de quem sou, do que sinto e o que espero. Escolhi uma roupa discreta, mas com a capacidade sutil de mostrar que uma mulher interessante estava sendo coberta para ser descoberta por quem se atrevesse a olhá-la.

Saí confiante na busca do seu olhar que me encanta e me esquenta a alma, que me faz sentir o coração pular de alegria. Esperei cantando feliz. Aquela moça havia acordado para a vida só pelo simples fato de você olhar para ela e dizer um “Como vai” ou “Tudo bem”! Vi você vindo com aquele andar casual, despojado e másculo que tanto me seduz. Aprumei o corpo, ajeitei o cabelo e fiquei esperando à hora certa de lhe retribuir o sorriso, ensaiando as palavras corretas e lustrando o brilho dos meus olhos. Você veio na minha direção, tal qual felino caminhando rumo à sua presa... E passou direto. Não me viu. Sequer notou.

Voltei para casa abatida e desencantada da vida...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Amor e Tesão


Suor, calor, frio nas mãos suadas. Perde-se o sono, a fome e, inacreditavelmente, descobre-se a vontade de viver intensamente cada segundo, desde que ele esteja lá, do seu lado, compartilhando tudo, saboreando momentos, guardando, como você os sons e as imagens, as datas e as lembranças, na memória que existe dentro do coração. Ah, coração bandido, feito de amianto para suportar o fogo da paixão que invade, cerca por todos os lados e explode como fogos de artifício, fazendo com que sua batida se torne descompassada e ao mesmo tempo, plágio daquela música tema, daquele momento vivido a dois, naquele lugar e data que jamais serão esquecidos. Isso sim é o amor, aquele que é eterno enquanto dure e que não escolhe hora, raça, sexo ou idade.

Suor, calor, frio nas mãos suadas. Perde-se o sono, a fome e, inacreditavelmente, só queremos aquilo que se torna nosso objeto de desejo e prazer. Fazemos de tudo, arriscamos nossas fichas, da primeira a última, no jogo da sedução e, vez por outra, recebemos um cheque-mate para decidirmos se damos ou descemos. E mesmo assim, com essa volúpia quase que na escala máxima dos furacões, ele invade nossos cinco sentidos, se transformando no sexto e mais importante, porque nos tira a fome e o sossego e nos remete para o lado da pessoa, nos impele, usa e abusa da nossa inocência indecente. Ah, corpo bandido, feito de amianto e fogo que queima mesmo assim, não suportando a louca química dos corpos. Ele é o maestro dessa orquestra que faz com que todos os seus membros pulsem e latejem em uníssono, explodindo como fogos de artifício, transformando aquele momento num marco da conquista, mas que dura o equivalente a um ou diversos orgasmos, solitários ou acompanhados, e que escolhe pela pele, pelo cheiro e pelo olhar, pela hora, pela raça, pelo sexo ou pela idade...Isto sim é o tesão!

Sim. Amor e Tesão são dois extremos que se completam e se equilibram, não necessariamente, se igualando e que são vividos na mesma hora, no mesmo lugar e pelos mesmos protagonistas desta loucura que tem como elo o fogo mágico e a química perfeita da emoção!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Planos - Para quê?!






Quando a gente constrói um sonho, somos arquitetos de magias, brincamos de alquimistas com nossos pensamentos, misturando poesia e fantasia e tendo a felicidade como o resultado. Traçamos curvas onde seriam retas e retas onde seriam curvas. Através de nossos sonhos somos donos do poder de alterar as coisas conforme nossa vontade sem que, com isso, alguém conheça a derrota ou o sentimento do fracasso.

Nossos castelos de sonhos, feitos de nuvens cor de rosa tem sempre um raio de sol entrando por inúmeras frestas de janelas ou pelas dezenas de portas escancaradas. Nada nos incomoda, não existem barulhos, dores, não se convive com a sombra, muito menos conhecemos o que é tristeza.

Entretanto, sonhar custa caro. Quem disse que não custa nada, está enganado. Custa a dor da queda na realidade dura da vida que é real e palpável. Por vezes, alcançamos o fundo do poço e não temos fôlego ou ânimo de dar impulso para sair, subir, tentar ver de novo a luz do sol brilhando lá fora. Descobre-se que o sol brilha, mas nem sempre na mesma intensidade com que brilha para outros. Que a chuva molha e revigora o jardim vizinho, enquanto o seu morre a mingua. A vida real, cujos planos traçamos em nossos sonhos, na verdade, não passa de um rascunho que amassamos, diariamente, e jogamos no lixo. E junto com ele vão nossos desejos, anseios em forma de frustração, tristeza e dor.

E seus planos de vida vão passando, assim como o seu tempo. Os seus cabelos embranquecem, assim como seu corpo envelhece e cansa de lutar contra o invisível. Os valores deixam de pesar como pesavam e passam a ser meros coadjuvantes. O principal se esvai pelos dedos e nem nos damos conta. Nossa vida passa e, na maioria das vezes, passamos com ela, sem sermos notados, sem marcas, sem deixarmos, sequer, saudades. E, no entanto, sem seus sonhos tão planejados de um mundo feliz e cor de rosa, todos aqueles que passaram por você e não lhe viram, estiveram presentes.

Como é difícil aprender a ser só! Como é difícil caminhar e ver suas pegadas sumirem com o vento, olhar pra trás e não ter deixado nada, não ter sido alguém marcante, não ter deixado um olhar carente de sua presença! Como dói essa mágoa constante de ser só e saber que será assim até o dia em que o sopro da sua vida se apagará, como uma vela que acaba e que sua luz nada representou.