quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Metas e Sonhos

Acho legal ter metas. Eu nunca fui uma pessoa de traçar metas e objetivos. Antes mesmo de Zeca Pagodinho, eu já deixava a vida me levar para onde ela achasse que seria o meu destino. Depois que meu pai faleceu, se eu já não tinha planos, aí mesmo que eu passei a viver o hoje, afinal, quem me garantiria que estaria viva amanhã.

Quando tive filhos, pensei em mudar. Tentei. Juro! Quando se é mãe, deixamos de existir. O dinheiro que usava em futilidades para não deixar para as minhocas depois da minha morte, passei a pensar em guardar para o futuro dos meus meninos. Roupas caras, sapatos de marca deram lugar aos de loja de departamento. Viagens e festas, só as infantis. Planos, só mesmo de vê-los crescer felizes, dando tudo o que pudesse de melhor no momento: a melhor escola, o melhor brinquedo, a melhor roupa, festa de aniversário inesquecível... E o plano de juntar algum dinheiro nunca deu certo. E eu pensava que antes gastar com alegria do que com doença. Proporcionar o sorriso no rosto dos meus filhos seria a minha herança. A lembrança de uma mãe que não mediu esforços para dar a eles o melhor material, mas também, todo o amor dessa vida! Passei a viver por eles, para eles e com eles.

Eles foram crescendo e a vida foi seguindo. Ora me dando flores no caminho, ora me fazendo pisar em espinhos. Ora flutuando em alegria, ora afundando em poços sem fundo de mágoa e tristeza. Tentei ler livros de auto-ajuda, tentei seguir o conselho de O Segredo. Acho que consegui engordar o cofrinho do autor porque um dos meus pedidos, de ter um cofrinho cheio nunca se realizou. Perdi pessoas, perdi empregos, ganhei pessoas, fiz amigos, posso dizer que revivi o sentimento de estar apaixonada por mim no dia que me apaixonei de novo após tantos anos de uma vida acomodada emocionalmente. Pensei, cá com os meus botões, que as metas não tinham sido cumpridas, mas outras vieram para contrabalançar.

Mas, as coisas não andaram como eu planejei porque, na verdade, eu não tracei metas. Eu sonhei. Eu viajei em tapetes mágicos, pousei em nuvens, vivi em castelos de areia. Tudo aquilo que eu pensara ter vindo para dar uma equilibrada na minha vida, na verdade, não passou de uma utopia. Pode não parecer, mas não desisto fácil das coisas. Sou teimosa quando quero algo. E, nem assim, conquisto o que desejo. Porque não vejo as coisas como coisas reais. Sempre achei que dava passos conforme o tamanho de minhas pernas, mas vi que não. Sempre pensei abraçar os que estavam a minha volta, mas na verdade eu queria abraçar o mundo e não consegui. Triste, sofrida, magoada, eu percebi que não sei traçar metas reais. Jamais aprendi a construir uma vida baseada em coisas concretas. Vivi fantasias, utopias que nunca me trouxeram nada de positivo no final. Vivi migalhas de emoções quando poderia ter vivido o todo. Vivi esperanças. Vivi? Seria esse o verbo correto? Acho que a forma correta seria deixei de viver o melhor por ver o mundo de um jeito só meu. Um mundo onde as pessoas se apaixonariam por mim porque eu sou uma pessoa presente, ou que corre e ampara ou que se preocupa ou que vive intensamente a vida do outro no afã de ajudar e ser útil, não se importando se enfiei os pés pelas mãos, se virei uma pessoa inconveniente, se desejei os holofotes todos só para mim, se esperei loucamente uma frase de amor, compreensão, um gesto de carinho, um afago por mim, por ser assim e não por uma gratidão obrigatória ou educada.

A ficha, quando cai, faz um barulho ensurdecedor no coração da gente, tenha certeza, porque além do barulho, ela provoca seqüelas, como buracos na alma. Amar sem ser amado, realmente, é limpar a bunda sem estar cagado. Frase grosseira da mais pura verdade. Dói, arde, machuca e só o tempo cura, isso se formos inteligentes. E eu não sou... Vivo me dando, vivo querendo o pouco, o quase nada achando que isso me faz feliz. Mas, contando as vezes que fui feliz nos meus sonhos versus o que eu pensei ter como meta a alcançar e não consegui, percebi que perdi tempo, perdi minha auto-estima, perdi a alegria do meu rosto, a vontade de perseguir objetivos, a felicidade. Trago rugas nos olhos que choram quase todos os dias. Trago amargura nas palavras. Trago impaciência com quem não merece e que quer me ajudar. Fico procurando, de alguma forma, aquilo que me faria feliz, perseguindo, me humilhando, ouvindo desaforos e me desculpando por dar amor a quem não me quer. Alimento-me de migalhas e lembranças do pouco de atenção que fui merecedora de ter. E, mesmo sabendo que desse mato não sairá coelho, eu continuo insistindo, me agredindo, me martirizando.

Comecei esse ano de 2011 com um medo, uma angústia do que estaria por vir. Mas, fiz o que não faço há tempos: tracei metas, estabeleci horizontes e pensei que aquele medo era, exatamente, por estar desacostumada com o ato de pensar a frente, de planejar e de repente não dar certo. Estava errada. Meu medo teve um motivo. Meu sexto-sentido, minha sintonia fina me alertou para o fato de que tudo o que eu estabeleci, não passava de sonhos. E uma única frase, vinda da boca que mais amo, destruiu com tudo. Na verdade, eu não tracei metas. Eu, mais uma vez, construí sonhos em castelos de nuvens que ao soprar do vento das palavras se desmoronou...