quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dor de alma


“Um amigo me pediu que o ajudasse a curar suas dores. Peguei as minhas, coloquei-as no bolso e fui... "

É assim que encaro a vida. Estou colocando a planta dos pés no fundo do poço, estou me afogando na lama, não tenho forças para sair do buraco, não consigo mais me levantar, me arrasto... Mas, se alguém me diz que precisa de mim, me renovo e saio em busca da felicidade de quem precisa. Entretanto, quase sempre, a recíproca não é verdadeira. Passada a tormenta, tudo volta ao normal. O amigo sofrido segue seu rumo e eu volto ao fundo do poço. Peço, chamo, imploro a atenção e nada escuto, exceto o som de minha voz solitária. Por quê? O que faz com que seja sempre “Venha a nós e ao vosso reino... Nada!”?

Passei, muito recentemente, por uma situação assim. Estávamos ambos numa sintonia assustadora. Estávamos ambos no abismo, prestes a pedir arrego! Resolvemos que reverteríamos juntos a situação. Encontramos-nos e trocamos energias, força, afeto, palavras que seriam o gás para ressurgir, qual Fênix, das cinzas. E o que aconteceu? Meu amigo conseguiu se livrar das dores e deixou para mim, apenas, a saudade, o gosto da felicidade que pouco dura e as minhas mesmas dores... Companheiras diárias... Solidárias...

Não se presta ajuda esperando nada em troca. Faz-se por amor. Mas, o ser humano, no fundo espera algo. Companheirismo, cumplicidade, afinal, amigos são assim! Chego a pensar que o juramento do casamento deveria, sim, ser feito para a amizade. “Na saúde, na doença, na riqueza, na pobreza...” e, no entanto, não é assim que acontece, pelo menos, não tem sido assim que vem acontecendo cada vez que guardo minhas dores no bolso e cuido das dele.

Sinto-me usada, nada mais que um ser descartável que foi útil num dado momento e fim. Não era para ser assim. E quando fico “bolada” com isso e questiono, as respostas são sempre as mesmas: “deixa de paranóia, é coincidência, muito que fazer e me falta o tempo, foi bom, mas não se iluda”, enfim, essas coisas...

Aí, o que me resta? Mágoa, dor, tristeza e mais um punhado de dores para recuperar. Enquanto o que eu mais queria dizer era “Eu não sei nem por que terminou tudo assim... Ah, se eu fosse você, eu voltava pra mim...”. Porém, sou uma pessoa incorrigível e nessa altura de minha vida, mesmo dizendo que não farei mais isso comigo, ao primeiro sinal de sua dor, Moreno, colocarei as minhas no bolso, já repleto de mágoas, tristezas e incertezas e irei ajudá-lo. Afinal, para eu ser feliz você precisa ser também.

3 comentários:

ROCA (Ricardo Amarante) disse...

Passei por aqui e deixo um abraço.
Amarante

Daniel Bykoff disse...

Wow....texto duro e direto.

Ficcional ou real ????

Se for ficcional, captou bem as mazelas de boa parte das gentes que pensam que sua felicidade está atrelada à de outro ser (ilha.

Se for real....puxa ! O único comentário que posso fazer é o de que NINGUÉM merece o que você faz !!!

E ninguém precisa da felicidade de outrem para ser feliz. A sua felicidade é o bem mais precioso que você pode almejar !!! E ela acontece dentro de você !!!

Beijão e fiquei feliz de saber que o Blog não acabou !!!

Quando tiver postagens novas, avise pelo twitter !!!!

PS - Logo, logo voltarei a escrever...aí te aviso para trocarmos figurinhas e acessos !!!!

Anônimo disse...

Adorei seu blog... Tinha uma dúvida será que reconheci estas frases "Um amigo me pediu que o ajudasse a curar suas dores. Peguei as minha, coloquei-as no bolso e fui..." como de Clarice Lispector. Mas de um tempo pra cá, vejo referência a Caio Fernando de Abreu... Você sabe a resposta?