segunda-feira, 22 de agosto de 2011

De volta para o casulo

Eu estava segura num casulo e veio você. Tirou-me de dentro e, mesmo sem saber voar, eu voei... Voei feliz, apesar de saber que meu céu era limitado, que minhas asas não eram tão lindas como você desejava. Eu voei o mais alto para realizar não só meu sonho, mas para agradecer por você me dar o direito de experimentar sensações nunca vividas. Eu desejei voar seus sonhos... Eu queria mais que tudo, fazê-lo feliz! Eu lhe dei mais do que meu coração. Dei-lhe total devoção. Tornei-me presença diária, mas esqueci de saber se você queria isso também. Criei uma obrigação onde deveria existir prazer, mas você nunca soube o que era viver sem cor, sem céu, sem sol, sem sonhos... Exagerei na ânsia de viver! Tornei-me seu lenço e sequei suas lágrimas. Transformei-me em muleta e amparei suas quedas. Surpreendi-me ao ser seu espelho ao me pegar rindo com você pelas suas conquistas. Vibrei com toda emoção que um coração pode sentir ao ver o seu batendo feliz. Não andei atrás de você por medo de não conseguir seguí-lo. Não andei na sua frente com receio de você não querer acompanhar-me. Andei do seu lado e nesses quatro anos, eu tenho a certeza de que fui sua amiga. Amiga leal, sincera, honesta, capaz de mover céus e terras para prezervar o que de melhor eu tinha e que me fora dado por você: minhas asas para voar, vez por outra, na sua direção e provar do seu néctar, saciando minha sede, matando meu desejo, minha saudade, minha fome de viver. E com a força que ganhei, vinda da nossa sintonia, eu construí um castelo colocando um pedaço de mim, todos os dias, em forma de tijolo. Nele, não teríamos portas para existir a liberdade de ir e vir. Não haveriam brigas porque a convivência seria amigável, seria sincera e verdadeira. Não haveriam medos, menos ainda a covardia ou a mágoa. O alicerce seria forte porque seria feito de respeito, carinho e afeto. Foram quatro anos de mim colocados ali. Eu era um tijolo, uma borboleta, um lenço, uma muleta, um sorriso, um resto de tempo que sobrava, não me importava. Eu era feliz, assim, do jeitinho como estava. Não precisava mudar, menos ainda perguntar. Fosse a condição a mim imposta, eu aceitaria, sem pensar. Foi quando, num dia lindo de sol de inverno, se dizendo saudoso, você veio me ver. Meu deu o néctar que me fortalecia e, sem olhar nos meus olhos, disse-me que não ia mais voltar. Que chegara a hora de acabar... Você não me deu a opção de dizer que, o que eu tinha me bastava e que se era para esperá-lo no castelo, sem voar vez por outra em busca de notícias, eu o faria sem duas vezes pensar. Em segundos, que pareceram uma eternidade, sem olhar nos meus olhos marejados, quatro anos passaram na minha mente e para quem tinha a migalha, continuar com ela não faria diferença. Já viver sem ela significaria voltar ao casulo, significaria não voar nunca mais, não sentir a felicidade de compartilhar pequenos momentos com você. E de uma forma quase que covarde, disse para esse inseto sofrendo, ali na sua frente, que eu não voaria mais para você... Na ânsia de ser útil, de querer sua amizade ou os restos que me eram destinados na sua vida sempre ocupada, para que eu pudesse ter forças para continuar voando feliz, eu cobrei demais. Eu me impus demais. Me tornei inconveniente demais. Eu só queria sentir o calor da felicidade nas minhas asas, mesmo que eu voasse cada vez menos... O pouco já me alegrava... Mas, você não entendeu as minhas necessidades... Não tem problema não sentir mais o seu cheiro, não provar o seu gosto ou, sequer ver a sua face. Para mim, bastava continuar sendo o que sempre fui: um sapato velho para quando seus pés estivessem cansados, você poder aquecê-los e descansá-los. Não me importaria de ser sua muleta, seu escudo pra lhe proteger ou seu lenço para suas lágrimas secar... Mas, essas coisas são para seres importantes, marcantes e eu vi, de forma sofrida, cruel que, se eu fui especial um dia, agora deixara de ser... Na verdade, fui apenas uma borboleta a mais que voou e acreditou que o calor da felicidade e da amizade vindos da luz que brilha em você era para todos, inclusive, para mim... Apesar de tudo, eu fui feliz. E embora não tenha sobrado nada de mim, embora eu esteja em cacos assim como meu coração, embora todos os tijolinhos do castelo tenham se desmoronado e eu tenha afundado nas minhas lágrimas, que não se cansam de rolar, continuarei colocando, todos os dias, a porção que me cabe de tijolos no meu castelo de sonhos. Se um dia, você mudar de ideia, pelo menos vai ter um lugar seguro para repousar, o chinelo velho para aquecer seus pés e uma velha e desiludida borboleta que, provavelmente, desaprendeu a voar, mas que sabe ser grata por tudo o que viveu e que, principalmente, sabe honrar a palavra amizade.

2 comentários:

Daniel Bykoff disse...

Não perde tempo quem constroe castelos nas nuves.....depois é só construir os alicerces. Bjo.....

Enide Santos disse...

Olá, passei um bom tempo aqui e vou precisar voltar,adorei seus contos, parabéns eu vou mais eu volto, meu toque para você.